Aducanumab: nova promessa para o Alzheimer

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O Aducanumab é um novo medicamento para tratamento de Alzheimer em fase de comprometimento cognitivo e demência leve.

Em 07 de junho de 2021 o FDA (Food and Drug Administration) aprovou em caráter excepcional o fármaco Aducanumab (Adulhem) para o tratamento de Alzheimer. A nova droga é destinada ao tratamento da doença em fase de comprometimento cognitivo leve e demência leve.

O fármaco, desenvolvido pela indústria farmacêutica Biogen, trata de um anticorpo monoclonal humano, que tem como alvo de ação a proteína beta-amilóide.


Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer, também chamada de mal de Alzheimer, é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas idosas. Sua causa ainda é desconhecida, mas acredita-se que seja determinada por componente genético.

A instalação da doença ocorre quando certas proteínas do sistema nervoso central começam a serem processadas de forma errada, surgindo então fragmentos de proteínas, tóxicas, dentro de neurônios e nos espaços interneurônios.

Por conta dessa toxicidade, ocorre a perda progressiva de neurônios em algumas regiões cerebrais, como o hipocampo (controle de memória) e o córtex (linguagem e raciocínio, memória e estímulos sensoriais).

Sua evolução costuma ser lenta e gradual, sendo que a partir do diagnóstico a sobrevida média é de 8 a 10 anos.

O quadro clínico do paciente com a doença é dividido em quatro estágios, que são:

  • Estágio 1 (inicial): alterações em memória, personalidade e habilidades visuais e espaciais;
  • Estágio 2 (moderado): dificuldade de fala, realização de tarefas simples e coordenação dos movimentos. É comum ocorrer agitação e insônia;
  • Estágio 3 (grave): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade de alimentação. Deficiência motora progressiva;
  • Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Mutismo. Dor ao engolir. Infecções intercorrentes.

Por se tratar de uma doença sem cura, o objetivo do tratamento é retardar a evolução do quadro e preservar as funções intelectuais.


Indicações

alzeheimer

O Aducanumab é um agente aprovado em junho de 2021 que tem em sua composição um anticorpo monoclonal direcionado às proteínas beta-amiloides. Inicialmente indicado para todos os pacientes com a doença de Alzheimer, agora tem sua indicação restrita à pacientes em estágios leves da doença, tanto do comprometimento cognitivo como da demência.

A terapia com o medicamento foi testada em ensaios clínicos envolvendo indivíduos com comprometimento cognitivo e demência em estados leves, e o uso contínuo e sua aprovação total dependerá de uma verificação adicional dos seus benefícios clínicos, avaliados em estudos pós-aprovação.

De acordo com os estudos divulgados, seu uso em pacientes com diagnóstico concreto da Doença de Alzheimer levou a uma redução de 20 a 30% no declínio imposto pela doença, mensurado através de exames de neuroimagem e testes de avaliação específicos.


Mecanismo de ação

O Aducanumab é um imunoterapêutico classificado como anticorpo monoclonal de imunoglobulina humana gama 1 (IgG1). Seu mecanismo de ação é exercido quando o fármaco atravessa a barreira hematoencefálica e se direciona ligando seletivamente oligômeros solúveis agregados e conformações de fibrilas insolúveis de placas Ab no encéfalo.

Análises bioquímicas e estruturais demonstraram que o fármaco se liga ao epítopo linear formado pelos aminoácidos Ab 3 a 7. Quando comparado a outros anticorpos estudados previamente, o Aducanumab se ligou ao termina N de Ab em uma conformação estendida.

Com base em alguns parâmetros, o fármaco demonstrou discriminar entre monômeros Ab e agregados oligoméricos ou fibrilares. Sua maior seletividade pelas formas Ab agregadas resulta na redução das placas Ab encefálicas.


Administração

Atualmente, encontra-se disponível em frascos de dose unitária para administração através de infusão intravenosa.

O Aducanumab é diluído, com base no peso corporal do paciente, com 100 mL de injeção de cloreto de sódio a 0,9% antes da infusão. A solução deve ser estabilizada em temperatura ambiente antes da administração.

Após a diluição, as porções não utilizadas devem ser descartadas.

A infusão intravenosa deve ser administrada durante um período de 1 hora e realizada a cada quatro semanas, com um intervalo mínimo de 21 dias entre as doses. A dosagem deve ser titulada, atingindo 10 mg/kg a partir da sétima infusão.

Abaixo, veja o cronograma de dosagem a ser seguido:

– Primeira infusão (1 mg/kg);

– Segunda infusão (1 mg/kg);

– Terceira infusão (3 mg/kg);

– Quarta infusão (3 mg/kg);

– Quinta infusão (6 mg/kg);

– Sexta infusão (6 mg/kg);

– Sétima infusão em diante (10 mg/kg).


Efeitos adversos

Os efeitos adversos relatados nos ensaios clínicos realizados foram:

– ARIA-edema (ARIA-E) (35%)*

– Micro-hemorragia de deposição de ARIA-hemossiderina (ARIA-H) (19%)*

– Siderose superficial ARIA-H (15%)*

– Dor de cabeça (21%)

– Queda (15%)

– Diarreia (9%)

– Confusão/delírio/estado mental alterado/desorientação (8%)

– Hipersensibilidade (angioedema, urticária) (<1%)

– Imunogenicidade (<1%)

*Anormalidades de imagem relacionadas à amiloide (ARIA)


Precauções

É necessária realização de ressonância magnética encefálica antes do início do tratamento com Aducanumab em decorrência dos seus efeitos colaterais, principalmente das anormalidades de imagem relacionas à amiloide. ARIA-E pode ser vista como edema cerebral e derrames sulcais, enquanto ARIA-H pode ser observada como micro-hemorragias e siderose superficial na imagem encefálica.

As principais manifestações clínicas de ARIA são dor de cabeça, confusão, delírio, estado mental alterado, desorientação, tontura, anormalidades visuais e náusea.

Recomenda-se também a avaliação com exames de imagem na sétima e décima primeira infusão para monitorar o desenvolvimento de ARIA assintomática.

Durante a perfusão do fármaco podem ocorrer reações de hipersensibilidade, como angioedema e urticária. Nesse caso, deve-se iniciar a descontinuação do Aducanumabe e o manejo adequado para tratamento dos sintomas.


Posicionamento da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

É de se concordar que os avanços nas pesquisas em busca de um tratamento para a Doença de Alzheimer são altamente relevantes, e que a aprovação do Aducanumab é um marco na ciência, que possivelmente catapultará novas pesquisas relacionadas ao tema.

No entanto, existem aspectos contrários à aprovação dessa medicação de são contundentes, e por esse motivo, é necessária extrema cautela na análise dessa aprovação e suas consequências futuras.


Referências:

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde. Doença de Alzheimer. 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/doenca-de-alzheimer-3/#:~:text=Doen%C3%A7a%20de%20Alzheimer%20%C3%A9%20a,central%20come%C3%A7a%20a%20dar%20errado.. Acesso em: 11 jul. 2022.

Padda, I. S., Parmar, M. Aducanumabe. StatPearls [Internet]. Jan. 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK573062/

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Aducanumab para Alzheimer. 2021. Disponível em: https://sbgg.org.br/aducanumab-para-alzheimer/. Acesso em: 11 jul. 2022.

Marina Goulart da Silva

Graduada em Farmácia e Mestre em Ciências da Saúde: Neurociências pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior e Metodologias Ativas. Atua como pesquisadora estudando a efetividade de intervenções farmacológicas em transtornos psiquiátricos.

Também é professora do Ensino Superior.

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Marina Goulart da Silva

Marina Goulart da Silva

Graduada em Farmácia e Mestre em Ciências da Saúde: Neurociências pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior e Metodologias Ativas. Atua como pesquisadora estudando a efetividade de intervenções farmacológicas em transtornos psiquiátricos.

Também é professora do Ensino Superior.

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