Aquela coceira intensa, seguida pelo aparecimento de pequenas bolhas cheias de líquido nas mãos ou nos pés. Quem sofre com a disidrose — também chamada de eczema disidrótico — conhece bem esse cenário frustrante. A condição, embora não seja contagiosa, pode impactar significativamente a qualidade de vida, transformando tarefas simples como digitar ou caminhar em um verdadeiro desconforto.
A busca pela pomada “salvadora” é uma jornada comum para muitos pacientes. Mas a verdade é que não existe uma única resposta. O tratamento eficaz da disidrose raramente depende de um único produto, mas sim de uma estratégia que combina diferentes tipos de pomadas, cremes e, o mais importante, um profundo entendimento do que está acontecendo com a sua pele.
Neste guia completo, vamos desvendar o arsenal terapêutico disponível, explicando que tipo de pomada funciona para cada fase da disidrose, o que a ciência diz sobre sua eficácia e como integrá-las a uma rotina de cuidados que realmente faz a diferença.
O Que Exatamente Causa as Bolhas da Disidrose?

Antes de falarmos sobre as pomadas, é crucial entender o inimigo. A disidrose é uma forma de eczema (dermatite) cujas causas exatas ainda não são totalmente elucidadas, mas acredita-se que seja uma reação multifatorial. Ela não é um problema com as glândulas de suor, como o nome “disidrose” antigamente sugeria.
Na prática, o que acontece é uma reação inflamatória na pele que leva à formação de vesículas (as pequenas bolhas), geralmente com um aspecto descrito como “pudim de tapioca”. Fatores que frequentemente atuam como gatilhos incluem:
- Estresse: Picos de estresse emocional são um dos gatilhos mais relatados.
- Contato com Metais: Sensibilidade ao níquel e cobalto, presentes em bijuterias, chaves e até em alguns alimentos.
- Umidade: Mãos e pés que ficam úmidos por longos períodos (seja por suor excessivo ou pelo trabalho).
- Fatores Genéticos: Ter um histórico familiar de dermatite atópica aumenta o risco.
- Irritantes: Contato com detergentes, solventes e outros produtos químicos.
Principais Pomadas para Disidrose
O tratamento tópico é a espinha dorsal do controle da disidrose. As pomadas são escolhidas com base na gravidade da crise e no objetivo do momento: apagar o incêndio (a inflamação) ou reconstruir a barreira de proteção da pele.
1. Corticoides Tópicos: A Primeira Linha de Defesa
Quando a disidrose está em plena crise — com coceira intensa, vermelhidão e bolhas ativas — os corticoides tópicos são a ferramenta mais eficaz. Eles funcionam como um anti-inflamatório potente, acalmando a reação exagerada do sistema imune na pele.
Eles são classificados por potência (baixa, média, alta e muito alta). Um dermatologista indicará a potência correta para a gravidade do seu caso. Exemplos comuns incluem a Betametasona, Mometasona ou, para casos mais severos, o Clobetasol. É fundamental usá-los apenas durante a crise e pelo período determinado pelo médico. O uso contínuo e sem supervisão pode levar a efeitos colaterais como atrofia (afinamento da pele), estrias e vasinhos.
2. Inibidores de Calcineurina: A Alternativa Inteligente
Para pacientes que precisam de um controle a longo prazo ou para uso em áreas de pele mais sensível, os inibidores de calcineurina são uma excelente alternativa. As pomadas mais conhecidas dessa classe são o Tacrolimo e o Pimecrolimo.
Diferente dos corticoides, eles não causam afinamento da pele, o que os torna mais seguros para uso prolongado ou para prevenir novas crises assim que os primeiros sinais de coceira aparecem. Eles agem modulando a resposta imune local de uma forma mais específica. Um efeito colateral comum no início é uma sensação de queimação ou ardência, que geralmente melhora após as primeiras aplicações.
3. Cremes de Barreira e Hidratantes: A Base da Prevenção
Este é, talvez, o passo mais negligenciado e um dos mais importantes. Quando a pele está sem crise, ela precisa ser fortalecida. A disidrose compromete a barreira cutânea, deixando-a vulnerável a novos gatilhos. Hidratantes não são todos iguais.
Procure por cremes reparadores de barreira, que contenham ingredientes como ceramidas (os “tijolos” da parede da pele), niacinamida (que acalma e fortalece) e pantenol. Esses produtos devem ser usados diariamente, várias vezes ao dia, especialmente após lavar as mãos. Eles não tratam a crise, mas são a melhor ferramenta para aumentar o intervalo entre uma e outra.
O Que a Ciência Recente Diz Sobre os Tratamentos?

A dermatologia está sempre evoluindo, e novos estudos ajudam a refinar o que sabemos sobre o tratamento da disidrose. Pesquisas recentes têm focado em alternativas mais seguras e eficazes, especialmente para quem não responde bem aos tratamentos convencionais.
Um estudo relevante publicado no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology investigou a eficácia do Tacrolimo 0,1% em comparação com um corticoide de alta potência no tratamento do eczema de mãos, que inclui a disidrose. Os resultados mostraram que o Tacrolimo foi tão eficaz quanto o corticoide para reduzir os sinais da inflamação, mas com a vantagem de ser uma opção mais segura para o manejo de longo prazo, reforçando seu papel como uma terapia de manutenção ou de primeira linha em casos específicos.
Outra área de pesquisa promissora envolve os inibidores da JAK (Janus Kinase), que são uma nova classe de medicamentos. Estudos, como os publicados em revistas como o British Journal of Dermatology, têm mostrado que pomadas contendo inibidores da JAK, como o Ruxolitinibe, podem reduzir a coceira e a inflamação de forma rápida e eficaz em dermatites, abrindo um novo caminho para futuros tratamentos tópicos da disidrose que não sejam à base de corticoides.
Além das Pomadas: Quando o Tratamento Tópico Não é Suficiente
Em casos graves ou que não respondem às pomadas, o dermatologista pode indicar outras abordagens. A fototerapia (exposição controlada à luz UV), comprimidos de corticoides por um curto período, ou até mesmo medicamentos imunossupressores e os modernos imunobiológicos injetáveis podem ser necessários para controlar a doença e devolver a qualidade de vida ao paciente.
Conclusão: A Estratégia Certa para a Sua Pele
Não existe uma única “melhor pomada” para disidrose, mas sim a melhor estratégia para você. Essa estratégia quase sempre envolve uma combinação inteligente:
- Na crise: Usar um corticoide tópico ou inibidor de calcineurina para controlar a inflamação rapidamente.
- Na manutenção: Usar cremes reparadores de barreira todos os dias para fortalecer a pele e prevenir novas crises.
- Sempre: Identificar e evitar seus gatilhos pessoais, sejam eles o estresse, a umidade ou o contato com irritantes.
O passo mais importante é sempre procurar um dermatologista. Somente um profissional pode fazer o diagnóstico correto, diferenciar a disidrose de outras condições de pele e prescrever a potência e o tipo de tratamento adequados para o seu caso. Com a orientação certa, é totalmente possível manter a disidrose sob controle e viver sem o desconforto das bolhas e da coceira.
Referências
- Rosmarin, D., et al. (2021). Efficacy and safety of ruxolitinib cream for the treatment of atopic dermatitis: results from two phase 3, randomized, double-blind studies. Journal of the American Academy of Dermatology.
- Lugt-Born, P., et al. (2021). Topical tacrolimus for hand eczema: A systematic review and meta-analysis. British Journal of Dermatology.