- Os corticosteroides são um tipo de hormônio esteroide que pode ser usado para reduzir a dor, a inflamação e o inchaço.
- Eles podem ser tomados por via oral ou aplicados na pele na forma de creme, gel ou loção.
- Os corticosteróides funcionam suprimindo o sistema imunológico e bloqueando a liberação de certas substâncias químicas que causam inflamação.
- Eles são mais comumente prescritos para condições como artrite, asma e eczema.
- Os corticosteróides podem ser eficazes no alívio da dor, mas também podem causar efeitos colaterais graves.
- É importante falar com seu médico sobre os riscos e benefícios de tomar corticosteroides para sua dor.
Corticoides, também conhecidos como corticosteroides ou cortisona, são medicamentos sintéticos com base em hormônios, produzidos nas glândulas suprarrenais, cuja principal função é interromper inflamações crônicas ou agudas[1]BOTARGUES, M. et al. Nota farmacológica: Tratamiento con corticoides. Evidencia, v. 14, n. 1, 2011..
Os medicamentos corticoesteroides são frequentemente utilizados em diversas situações clínicas, como doenças reumatológicas (artrite reumatóide, lúpus ou vasculite) devido a sua potente ação anti-inflamatória e imunomoduladora. Além de possuírem esses efeitos, atuam também sobre fontes alternativas da dor[2]Barnes PJ. How corticosteroids control inflammation: quintiles prize lecture 2005. British journal of pharmacology. 2006 Jun;148(3):245-54..
Corticosteróides específicos incluem os medicamentos cortisona e prednisona.
Quais os usos do corticoide?
Algumas indicações clínicas para o uso de corticoides são:
- Doenças reumáticas, como polimialgia reumática, lúpus eritematoso sistêmico e poliarterite nodosa; doenças hematológicas, como anemia hemolítica autoimune;
- Doenças oncológicas, como linfomas e leucemias;
- Doenças gastrointestinais, como colite e hepatite autoimune crônica;
- Doenças infecciosas, como pneumonia grave e meningite;
- Doenças broncopulmonares, como asma;
- Doenças renais,
- Dermatológicas e alergias
- Insuficiência adrenal.
Como os corticoesteroides funcionam?
Os efeitos analgésicos dos corticoides estão relacionados à supressão de múltiplas vias de sinalização envolvidas na resposta inflamatória, resultando na redução dos níveis de prostaglandinas e leucotrienos, principais mediadores químicos que sensibilizam as terminações nervosas livres.
Mecanismo | Finalidade |
---|---|
Aumento da inibição da prostaglandina | Diminuir inflamação e dor |
Inibição do metabolismo do ácido araquidônico | Diminuir a produção de prostaglandina |
Estabilização de membranas lisossômicas | Diminuir mediadores inflamatórios |
Interferência na adesão leucocitária | Diminuir inflamação e dor |
Inibição da liberação de histamina | Diminuir inflamação e dor |
Quais são os medicamentos disponíveis?
Alguns exemplos conhecidos de corticoides são Prednisona, Prednisolona, Dexametasona, Betametasona, Flunisolida, Hidrocortisona e Metilprednisolona. Todos esses fármacos são considerados potentes, embora o nível de potência varie dependendo da dose consumida.
Indicações do uso de corticóides
Os esteróides são usados no tratamento de certas condições inflamatórias reumatológicas, como:
- Vasculite sistêmica (inflamação dos vasos sanguíneos).
- Miosite (inflamação do músculo).
- Artrite reumatóide (artrite inflamatória crônica).
- Lúpus eritematoso sistêmico (uma doença generalizada causada por função anormal do sistema imunológico).
- Osteoartrite (dor aguda, inflamação aguda)
Outros usos incluem:
- Asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
- Rinite alérgica.
- Urticária e eczema.
- Dores em articulações ou músculos – como artrite, cotovelo de tenista (epicondilite lateral) e ombro congelado (capsulite adesiva).
- Dor causada por um nervo irritado ou preso – como ciática.
- Doença inflamatória intestinal – como a doença de Crohn.
Em algumas situações, como no pronto socorro, os corticoides podem ser utilizados para alívio rápido de dores agudas, como enxaquecas, dores articulares e dores neuropáticas.
O uso do corticóide deve ser sempre avaliado pelo médico, considerando seus riscos e benefícios
Corticoides de uso local vs sistêmico
Os corticoides podem ser administrados localmente, no local exato onde existe um problema, ou sistemicamente, o que significa em todo o “sistema” ou corpo.
Exemplos de tratamentos locais com esteróides incluem:
- Injeções nas articulações,
- Colírios
- Em gotas para os ouvidos
- Cremes para a pele.
Os tratamentos sistêmicos com esteróides incluem medicamentos orais (administrados por via oral) ou medicamentos administrados diretamente em uma veia (por via intravenosa ou intravenosa) ou muscular (por via intramuscular).
Os esteróides sistêmicos circulam pela corrente sanguínea para vários locais do corpo.
Quando possível, os tratamentos locais com esteróides são prescritos em vez de esteróides sistêmicos para reduzir o risco de efeitos colaterais.
Efeitos adversos do uso dos corticoides
Efeitos colaterais dos corticosteróides orais
- Retenção de líquidos, causando edema (inchaço) na parte inferior das pernas.
- Pressão alta (aumento da pressão sanguínea)
- Estômago chateado (dor estomacal, azia)
- Insônia
- Problemas com alterações de humor, memória, comportamento e outros efeitos psicológicos, como confusão ou delírio.
- Ganho de peso, com aumento de depósitos de gordura no abdômen, rosto e nuca.
Com o uso a longo prazo, o uso recorrente dos corticosteróides podem resultar em qualquer um dos efeitos colaterais acima.
Efeito colateral | Descrição |
---|---|
Dor de cabeça | Cefaleia leve a intensa |
Náusea | Sensação de enjôo |
Desconforto no estômago | Dor de estômago, cólicas ou dor abdominal |
Azia | Sensação de queimação no peito |
Vermelhidão | Vermelhidão da pele, geralmente no rosto, pescoço ou peito |
Dificuldade para dormir | Insônia ou dificuldade em adormecer |
Mudanças de humor | Mudanças repentinas de humor ou comportamento |
Ganho de peso | Aumento do peso corporal |
Pressão alta | Níveis elevados de pressão arterial |
Retenção de líquidos | Inchaço devido ao acúmulo de fluidos no corpo |
Adelgaçamento da pele | Diminuição da espessura e elasticidade da pele |
Aumento do apetite | Desejo mais forte por comida |
Catarata | Opacificação da lente do olho |
Perda óssea | Diminuição da resistência e densidade óssea |
Que efeitos os corticoesteroides têm no osso e metabolismo ósseo?
Os corticoides têm efeitos importantes sobre como o corpo usa cálcio e vitamina D para construir ossos. Os esteróides podem levar à perda óssea, osteoporose e ossos quebrados.
Quando os medicamentos corticoides são usados em altas doses, a perda óssea pode acontecer rapidamente.
Nem todas as pessoas que tomam medicamentos esteróides perdem ou perdem osso na mesma proporção. A dose, as doenças subjacentes e possivelmente os genes desempenham um papel. Por exemplo, mulheres na pós-menopausa que tomam esteróides por mais de seis meses têm o maior risco de perda óssea.
O que acontece se eu parar de usar o corticoide de repente?
Em caso de pacientes que fazem uso crônico do corticoide (ou seja, por meses ou anos), a retirada rápida de esteróides pode causar uma síndrome que pode incluir fadiga, dor nas articulações, rigidez muscular, sensibilidade muscular ou febre.
Esses sintomas podem ser difíceis de separar daqueles de sua doença subjacente. Mesmo com a retirada mais lenta de esteróides, alguns desses sintomas são possíveis, mas geralmente em formas mais leves.
Em alguns casos, a retirada repentina de corticoides pode levar a uma síndrome mais grave de insuficiência adrenal. Isso pode causar sintomas e problemas de saúde, como queda na pressão arterial, bem como alterações químicas no sangue, como potássio alto ou baixo teor de sódio.
Dicas de autocuidado:
- Se você tiver sintomas como esses ao diminuir seus esteróides, discuta-os com o médico. Seu médico irá conversar com você para tentar continuamente diminuir sua dose de esteróide, a uma taxa segura de diminuição, dependendo de como você está. Em cada visita, discuta com o médico se é possível diminuir sua dose de esteróides.
- Observe que, mesmo se você estiver tendo um efeito colateral de esteróides, os esteróides ainda devem ser reduzidos de maneira progressiva, lentamente.
- Quando usado por menos de duas semanas, geralmente é possível uma redução mais rápida dos esteróides
Uso dos corticoides e estudos médicos
Os efeitos analgésicos desses medicamentos são estudados no decorrer dos tempos. Em 1997, por exemplo, um estudo foi publicado em Arquivos de Neuro-Psiquiatria com o objetivo de analisar pacientes com Síndrome de Tolosa-Hunt relacionando-os com o uso de Prednisona[3]CARRILHO, P. E. M. et al. Síndrome de Tolosa-Hunt: dificuldades no diagnóstico e padrão de resposta à Prednisona. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 55, n. 1, p. 101-105. 1997..
Essa síndrome consiste em uma oftalmoplegia bastante dolorosa causada por uma inflamação não específica no seio cavernoso.
Cinco pacientes com oftalmoplegia dolorosa foram selecionadas para participar da pesquisa no Serviço de Neurologia Clínica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, entre 1993 e 1995. Os resultados do estudo apontaram que em todos os pacientes, a resposta analgésica à prednisona foi surpreendente.
Todos obtiveram alívio da dor em menos de 48 horas, fato que já foi observado em revisões de literatura. Em relação à oftalmoparesia, ocorreu lentidão na resposta ao tratamento, variando entre 4 a 45 dias.
Corticoides são muito utilizados para melhorar o desconforto de dores ciáticas. Em um estudo mais recente, publicado em 2021, na Revista Eletrônica Acervo Saúde, diferentes corticoides (dexametasona, betametasona e triancinolona) foram utilizados na técnica de bloqueio do ramo troncular em pacientes com lombociatalgia[4]CÓBE, V. G. A. S. et al. Comparação da eficácia dos corticosteroides nos pacientes com hérnia discal extrusa submetidos a bloqueio radicular transforaminal. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. … Continue reading.
Os participantes da pesquisa totalizaram 60 pacientes, que foram atendidos durante os anos de 2014 a 2018.
Foram selecionados indivíduos maiores de 18 anos diagnosticados com hérnia de disco lombar foraminal extrusa por meio de exames de Ressonância Nuclear Magnética, que apresentavam dor radicular refratária ao tratamento conservador.
Os pacientes foram divididos em três grupos, onde o grupo 1 recebeu o composto dexametasona, o grupo 2 recebeu o composto betametasona e o grupo 3 recebeu triancinolona.
A pesquisa evidenciou que, em todos os grupos, obteve-se melhora no quadro de dor. Porém, comparando os três grupos, não foi observada superioridade com diferença estatística quanto à eficácia em redução da dor entre os fármacos utilizados.
Considerando a acessibilidade e os custos dos três medicamentos, a triancinolona apresenta o maior custo para aquisição. Já a betametasona e a dexametasona apresentam preços similares, com menor custo para aquisição.
Embora muitos outros relatos de caso demonstrem a eficácia de corticoides no alívio de dor para diversas condições clínicas, é importante salientar que, segundo alguns autores, a utilização desses medicamentos com a finalidade analgésica ainda é controversa.
Dionne e colaboradores, por exemplo, em um ensaio clínico, publicado em 2003, para o Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, avaliaram a relação existente entre os níveis de prostanoides no local da lesão tecidual e a analgesia, após a administração de dexametasona[5]DIONNE, R. et al. Dexamethasone suppresses peripheral prostanoid levels without analgesia in a clinical model of acute inflammation. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 61, n. 9, p. … Continue reading.
Os participantes da pesquisa receberam 4mg de dexametasona ou placebo, em dois horários diferentes, antes da remoção de terceiros molares inferiores.
Durante o estudo experimental, foi implantada uma sonda de microdiálise em cada sítio cirúrgico para medir os níveis de prostaglandina E2 imunorreativa ou tromboxano B2 imunorreativo. Simultaneamente, foi medido o nível de dor.
Os pacientes receberam também uma dose de 30mg do anti-inflamatório cetorolaco, por via intravenosa ou placebo, no início da dor.
Com base nos resultados, os autores da pesquisa observaram que os níveis de prostaglandinas E2 imunorreativas foram detectáveis na primeira amostra pós-operatória, diminuindo na hora seguinte e depois aumentando novamente com o início da dor pós-operatória.
A administração de dexametasona eliminou os níveis de prostaglandinas E2 imunorreativas em amostras coletadas no início da dor em comparação com placebo e eliminou ainda tromboxano B2 imunorreativo no local da cirurgia, mas sem qualquer efeito no quadro de dor.
Portanto, nesse caso clínico, os corticoides se mostraram ineficazes no controle da dor pós-operatória em cirurgia oral quando administrado isoladamente, visto que nas doses usuais, não reduzem a quantidade de prostaglandinas de modo suficiente para diminuir a sensibilização periférica dos nociceptores.
Dependendo do tipo de complicação e do tratamento em conjunto associado aos corticoides, os efeitos de analgesia certamente podem variar.
Esses medicamentos são úteis para diversos quadros clínicos graves no qual ocorre inflamação e dor, porém, quando usados por tempo prolongado, podem causar efeitos colaterais consideráveis.
Seu uso requer cuidados específicos, então a melhor opção é sempre conversar com seu médico para as orientações corretas quanto ao tempo de uso e dosagem.
Referências Bibliográficas
↑1 | BOTARGUES, M. et al. Nota farmacológica: Tratamiento con corticoides. Evidencia, v. 14, n. 1, 2011. |
---|---|
↑2 | Barnes PJ. How corticosteroids control inflammation: quintiles prize lecture 2005. British journal of pharmacology. 2006 Jun;148(3):245-54. |
↑3 | CARRILHO, P. E. M. et al. Síndrome de Tolosa-Hunt: dificuldades no diagnóstico e padrão de resposta à Prednisona. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 55, n. 1, p. 101-105. 1997. |
↑4 | CÓBE, V. G. A. S. et al. Comparação da eficácia dos corticosteroides nos pacientes com hérnia discal extrusa submetidos a bloqueio radicular transforaminal. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 1, 2021. |
↑5 | DIONNE, R. et al. Dexamethasone suppresses peripheral prostanoid levels without analgesia in a clinical model of acute inflammation. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 61, n. 9, p. 997-1003, 2003. |