A vontade compulsiva de ingerir alimentos com muito açúcar ou muito doces representa muito mais do que apenas uma questão de paladar, ela pode estar ligada a problemas hormonais ou até questões emocionais. O termo compulsão por doces, ou “sugar craving”, tem uma relação direta com carboidratos, insulina e apetite.
Por consequência, a compulsão alimentar por doces pode causar riscos à saúde, levando ao desenvolvimento de doenças como diabetes e problemas cardíacos. Entre os sinais da compulsão por doce estão irritabilidade, ansiedade e até dores de cabeça com a abstinência.
O desejo mais acentuado por doces parece ser mais prevalente em mulheres do que em homens, devido à relação direta com os hormônios. O declínio da produção hormonal ao longo da vida da mulher resulta em variações na geração de neurotransmissores, que geram a vontade acentuada por esses alimentos. O que também explica o aumento desses episódios durante a TPM (tensão pré-menstrual).
O paladar é um fator importante do comportamento alimentar, pois contribui para a preferência alimentar. Acredita-se que o paladar modula o apetite e a ingestão calórica, pois pacientes obesos relatam maior prazer pela doçura em comparação com indivíduos com peso normal.
O que causa?
Os fatores exatos que levam à compulsão por doces ainda não são totalmente esclarecidos.
Alguns estudos sugerem que a diminuição da glicemia estimule esses episódios. Ou seja, tempos prolongados de jejum e adesão a dietas restritivas podem desencadear episódios de desejo incontrolável por doces, que são uma fonte energética pronta e rápida.
Sabe-se também que a ingestão de carboidratos aumenta os níveis de insulina, hormônio que tem como função reduzir a glicemia. Isso causa o desejo por mais alimento, principalmente carboidratos. Açúcar branco, alimentos refinados e aqueles com alto índice glicêmico provocam um aumento maior na glicemia e, consequentemente, nos níveis de insulina, o que leva a maiores episódios de compulsão.
A vontade de comer doces parece estar ligada também ao aumento da produção de serotonina. A serotonina é um neurotransmissor, conhecida como o hormônio da felicidade, que atua na regulagem do ritmo cardíaco, do sono, do apetite e do humor, entre outros.
Quando estamos tristes ou quando os níveis desta substância estão em baixa em nosso organismo, sentimos vontade de comer alimentos doces.
Dentre os alimentos que mais ajudam na produção desses neurotransmissores está o chocolate, por isso, ao comê-lo, é gerada uma sensação de prazer, e a experiência adquirida deste contato, fica registrada no inconsciente como uma sensação boa, que lhe ampara, e dá segurança.
Pessoas ansiosas e compulsivas também são mais propensas a apresentar a compulsão por doces, por descontarem na comida seus problemas, suas frustrações e inquietações. Está diretamente ligada ao estado emocional e psicológico. Agravante ainda é que episódios de compulsão alimentar podem acabar por desencadear novos episódios de frustração e decepção pessoal, formando um ciclo negativo e exacerbando o problema.
Estudos demonstram também que o desejo aumentado por doces pode estar relacionado a deficiências nutricionais, principalmente de micronutrientes como magnésio, cromo, e vitaminas do complexo B. Mais uma vez aqui é demonstrado o impacto que dietas restritivas podem causar, pois podem levar à tais deficiências, alimentando cada vez mais a compulsão.
Como controlar a compulsão?
Uma forma de diminuir a compulsão por doces é ingerir alimentos reconhecidos como estimulantes da serotonina.
Nutrientes como niacina, vitamina B3, magnésio e triptofano atuam como precursores e podem ser encontrados em frutas como banana, abacaxi, kiwi, e também na aveia, leguminosas (lentilha, feijão), linhaça, semente de abóbora, quinoa, castanhas, carnes magras, peixes (atum e salmão), leite e derivados, além do chocolate amargo. O chocolate ainda é composto de cacau, que ajuda na liberação da endorfina (substância que proporciona sensação de bem-estar e bom humor).
Manter o intestino saudável com alimentos e, se necessário, suplementos específicos é fundamental, já que é nele que acontece a maior parte da produção de serotonina. Consumir alimentos que o corpo não consegue digerir adequadamente, acaba comprometendo a absorção de muitos nutrientes que são essenciais para produzir estes hormônios.
Um sono inadequado também pode piorar a compulsão por doces, devido ao aumento do cortisol, o hormônio do estresse, que é produzido quando o corpo está sob forte tensão, especialmente quando a pessoa não dorme bem. Com o cortisol desregulado o corpo acaba buscando a energia dos alimentos, principalmente carboidratos. Quando dormimos bem, produzimos, além de serotonina, a dopamina, substância que controla a ansiedade e também regula o humor e a saciedade.
Atitude simples como passar tempo ao ar livre, sentindo o sol na pele, também é tida como eficaz para elevar os níveis de serotonina no organismo. Una o útil ao agradável. Acorde cedo, coloque o tênis e dê uma caminhada no bairro, uma volta de bicicleta pelo parque ou uma corrida ao ar livre, e, além do benéfico da serotonina, você também estará fazendo uma atividade física.
Aliás, a prática de atividade física por si só é um excelente estímulo à produção de serotonina e endorfina. A manutenção de hábitos saudáveis e o fato de manter o corpo sempre ativo é um poderoso aliado contra episódios de compulsão alimentar.
O Picolinato de Cromo é um suplemento dietético, e tem sido sugerido que ele tem o poder de afetar os neurotransmissores envolvidos na regulação do comportamento alimentar, humor e desejos por comida, sendo sua suplementação indicada em alguns casos.
Outros fitoterápicos também podem ajudar no controle da compulsão por doce, como passiflora, maracujá, chá de camomila e chá de equinácea. Cada pessoa tem sua individualidade e a prescrição de suplementos depende da avaliação de um nutricionista.
O consumo em excesso de bebida alcoólica e tabaco também podem intensificar o problema. O aumento da ingestão e desejo por açúcar após a abstinência alcoólica tem sido observado em estudos, sendo essa relação frequentemente pauta de estudos científicos.
Como, finalmente, controlar a compulsão por doces?
A palavra-chave é moderação. Nem a restrição absoluta, nem o consumo exagerado parece ser saudável. A manutenção de corpo e mente equilibrados conseguem controlar a saciedade.