Níveis alterados de colesterol são um problema cuja prevalência vem aumentando em quase todo o mundo, devido, principalmente, ao estilo de vida sedentário e à má alimentação.
Ademais, o problema é fator de risco para algumas doenças crônicas não degenerativas, como as que afetam o sistema cardiovascular, além de estar envolvido na síndrome metabólica e em complicações da diabetes.
Mas, diferente da concepção usual, a molécula do colesterol em si não é danosa, e pode estar presente no organismo em diferentes formas, que podem ou não influenciar no desenvolvimento de patologias.
O Que É Colesterol?
O colesterol é uma substância parecida com a gordura que está presente na membrana de todas as células do corpo humano e de outros vertebrados, e participa da síntese de hormônios, vitamina D e da bile.
Por isso, o controle dos níveis sanguíneos de colesterol são tão importantes, uma vez que tanto o excesso quanto a falta podem causar problemas.
Quais os Tipos de Colesterol?
No sangue o colesterol é encontrado na forma de lipoproteínas, ou seja, uma combinação com proteínas que possibilita que elas se mantenham solúveis.
Assim, podemos diferenciar o colesterol de acordo com a densidade dessas lipoproteínas:
- LDL, ou lipoproteína de baixa densidade: Conhecido popularmente como “colesterol ruim”, essa lipoproteína transporta principalmente colesterol, e seus altos níveis estão associados ao desenvolvimento de aterosclerose;
- HDL, ou lipoproteína de alta densidade: Esse tipo é considerado benéfico para a saúde, ou seja, um fator de proteção contra algumas doenças. Isso ocorre porque ela transporta o colesterol de volta para o fígado, contribuindo para evitar o seu acúmulo nas artérias;
- VLDL, ou lipoproteína de densidade muito baixa: Já esse tipo transporta principalmente triglicérides, e também está associada à formação de placas de ateroma.
Valores de Referência do Colesterol
Os valores de referência para o colesterol variam de acordo com o tipo de lipoproteína analisada e com o risco cardiovascular do paciente, e foram divulgados em 2017, na Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, da Sociedade Brasileira de Cardiologia1.
São os seguintes:
1. Colesterol Total, HDL e Triglicérides, para os quais não há, de acordo com a atualização da diretriz, variações nos valores de referência conforme o risco cardiovascular:
Jejum | Sem jejum | |
Colesterol total (mg/dl) | < 190 | < 190 |
HDL (mg/dl) | > 40 | > 40 |
Triglicérides | < 150 | < 175 |
2. LDL, que deve sempre ser interpretado de acordo com as características do paciente que afetem o seu risco cardiovascular:
LDL (mg/dl) | |
Risco muito alto | < 50 |
Risco alto | < 70 |
Risco intermediário | < 100 |
Risco baixo | < 130 |
Assim, para uma melhor interpretação dos resultados, a correta análise dos fatores de risco é imprescindível. São eles:
Fatores considerados de muito alto risco:
- Doença aterosclerótica, mesmo assintomática;
- Obstrução arterial maior que 50%.
Fatores considerados de muito alto risco:
- Escore de risco global (ERG) de Framinghan ≥ 20% (homem) ou 10% (mulher) + LDL 70-189 mg/dl;
- Aterosclerose subclínica;
- Aneurisma de aorta abdominal;
- Doença renal crônica;
- LDL ≥ 190 mg/dl
- Diabetes Melitus (DM) 1 ou 2 + fatores de risco relacionadas à DM ou aterosclerose subclínica.
Fatores considerados de risco intermediário:
- ERG 5-20% (homem) ou 5-10% (mulher) + LDL 70-189 mg/dl;
- Diabetes Mellitus 1 ou 2 que não preencham critérios de alto risco.
Fatores considerados de risco baixo:
- ERG < 5% (homem) ou < 5% (mulher) + LDL 70-189 mg/dl.
Observação: Normalmente os níveis de triglicérides são medidos juntamente com o de colesterol, uma vez que ambos estão envolvidos no desenvolvimentos de doenças cardiovasculares, além de possuírem causas semelhantes para a sua elevação.
Causas do Colesterol Alto
Níveis de colesterol alto são causados por diversos fatores, como:
- Má alimentação;
- Sedentarismo, que além de aumentar o LDL e VLDL, também reduz os níveis de HDL;
- Tabagismo;
- Uso de medicamentos, como imunossupressores.
Além disso, existem fatores genéticos que levam a níveis cronicamente alterados de colesterol, como a hiperlipidemia familiar, que dificulta a eliminação do LDL do sangue, causando o seu acúmulo.
Como É Feito o Exame?
Como a elevação do colesterol por si só não causa sintomas, é importante incluir a sua dosagem nos exames de rotina, para diagnosticar qualquer possível alteração precocemente e corrigir o problema o mais rápido possível.
A medição do colesterol, também chamada de “perfil lipídico”, é realizada a partir de uma amostra de sangue, que deve ser coletada seguindo algumas orientações:
- Jejum de 12h, sem, no entanto, ultrapassar 14h;
- Evitar exercícios físicos vigorosos nas 24h anteriores ao exame;
- Não ingerir bebidas alcoólicas nas 72h anteriores ao exame.
Entretanto, algumas entidades médicas já não recomendam o jejum de 12h, e afirmam que a determinação desse tempo deve ser orientada pelo médico assistente.
Quais as Implicações Para a Saúde?
O colesterol, quando em níveis elevados, é considerado um fator de risco cardiovascular2,3, uma vez que se acumulam e formam placas de ateroma, que podem causar a obstrução dos vasos sanguíneos. Então, seu controle deve ser feito de forma mais rigorosa em pessoas com alguma doença cardiovascular já diagnosticada.
Além disso, existem casos onde a elevação dos níveis de LDL ocorre devido a um defeito genético, como citado anteriormente. Nesses casos, o controle das taxas de colesterol é mais difícil, e a ocorrência de problemas cardiovasculares, assim como outros distúrbios ocasionados pelo colesterol alto, é mais alta.
Tratamentos para Colesterol Alto
Os tratamentos disponíveis para o manejo do colesterol são empregados de acordo com os resultados dos exames, risco do paciente e outros fatores socioeconômicos1, e podem ser divididos em dois tipos principais:
- Mudanças de estilo de vida, que envolvem a prática regular de atividade física e a adoção de uma dieta pobre em gorduras saturadas, gorduras trans e colesterol, e rica em fibras alimentares;
- Terapia farmacológica, com o uso de hipolipemiantes como estatinas, resinas, ezetimiba, fibratos e inibidores da PCSK-9.
Assim, o médico poderá selecionar um ou mais tratamentos disponíveis, visando o melhor manejo possível para o paciente em questão.
Referências Bibliográficas
1. Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76.
2. Peters SA, Singhateh Y, Mackay D, Huxley RR, Woodward M. Total cholesterol as a risk factor for coronary heart disease and stroke in women compared with men: A systematic review and meta-analysis. Atherosclerosis. 2016. V:248. P:123-31.
3. Carson JAS, Lichtenstein AH, Anderson CAM, Appel LJ, Kris-Etherton PM, Meyer KA, Petersen K, Polonsky T, Van Horn L. Dietary Cholesterol and Cardiovascular Risk: A Science Advisory From the American Heart Association. Circulation 2020. V. 141(3):e39-e53.