Nicole Jefferson nem chegado aos trinta anos tinha chegado, mas já se sentia como se tivesse os quadris de uma idosa. Parecia que o quadril estava sempre travando e estalando. A dor viajava da lombar até a virilha, e então seguia para o quadril.
Corridas breves, algo que deveria ser fácil para quem praticou atletismo no Ensino Médio e no início da faculdade, tornaram-se excruciantes. “Eu só queria conseguir permanecer sentada durante um filme ou uma viagem mais longa de carro sem sentir dor”, diz ela.
Devido ao seu histórico atlético, os médicos suspeitaram de uma hérnia causada por atividade física, uma lesão no tecido mole da virilha. Mas a cirurgia para consertar este problema apenas agravou sua agonia.
Enfim, cinco anos atrás, quando ela estava com 35 anos, uma ressonância magnética identificou rasgos no labrum, anéis de cartilagem que revestem a parte interna do quadril que agem para amortecer e estabilizar a articulação. Ressonâncias magnéticas anteriores (feitas em máquinas mais antigas) falharam em ver o problema.
O médico dela disse que havia tanta inflamação ao redor do quadril que era como se estivessem “pegando fogo”. Ela se submeteu a uma cirurgia para reparar o labrum e a articulação, e em seguida iniciou o tratamento com fisioterapia. Apesar disso, ela ainda sente dor ao correr.
A experiência de Nicole não é um caso isolado. Nos últimos anos houve um aumento dramático no número de mulheres jovens que desenvolveram dor nos quadris relacionada à prática de atividade física no presente ou no passado.
O número de artroscopias do quadril, cirurgia que Nicole fez, atingiu números altíssimos, em particular entre os mais jovens, enquanto que a Artroplastia de quadril aumentou em 40% entre as pessoas com 45 e 54 anos.
O que há por trás desse aumento de cirurgias?
Em parte, os médicos aperfeiçoaram as técnicas de identificação dos problemas de quadril que antes eram diagnosticados e tratados como problemas na virilha ou lesões na coluna. Lá em cima na lista de problemas ignorados: rasgos no labrum e displasia de quadril, uma condição genética em que o acetábulo é raso demais para cobrir a cabeça inteira do fêmur. (É a causa líder de artrite no quadril em mulheres com menos de 50 anos.)
Mas o aumento também é resultado de mais mulheres praticando esportes nas últimas décadas, o que infelizmente, põe o quadril em perigo. Tanto o atletismo competitivo quanto o atletismo recreativo se tornaram populares na década de 80, em consequência da estreia da Maratona Feminina nas Olimpíadas de 1984.
Uma década mais cedo, a aprovação da lei Title IX[1] criou um espaço mais uniforme para a prática de atividades atléticas. O que levou a um aumento na participação feminina na modalidade cross country de corrida, no futebol, e na trilha, esportes de alto impacto que envolvem muita rotação.
Não se engane, esse aumento das mulheres na prática de esportes é incrível, mas também deve ser considerado como fator importante nas enfermidades do quadril.
Uma patologia cada vez mais diagnosticada em mulheres que começaram a praticar esportes cedo: Impacto femoroacetabular (IFA) que é uma alteração no encaixe entre a cabeça do fêmur e o acetábulo.
Adolescentes que praticam esportes causadores de impacto no quadril, muitas vezes desenvolvem algum crescimento ósseo, em forma de placas, na região da articulação. Essa estrutura óssea extra pode pressionar o labrum e, com o tempo, causar rasgos e por fim, artrite, em especial quando os indivíduos continuam a ser ativos na vida adulta.
Ambos os sexos são propensos, de forma igual, a ter IFA, mas as mulheres têm mais chances de sofrer pelos efeitos a longo do tempo, em parte porque a biologia criou a receita perfeita para a dor no quadril em todas as suas variedades. As mulheres também tendem a ter quadris mais largos que homens e a precisar de glúteos mais fortes, em especial o glúteo médio, músculo na parte de cima do bumbum, que serve para apoio e estabilidade. O problema é que muitos de nós passam mais tempo sentado nesses músculos que os alongando.
Outra causa de enfraquecimento das articulações: hormônios. Flutuações durante nossos ciclos pode afrouxar os tendões e os ligamentos que circundam o quadril, o que abre a possibilidade para lesões. É uma explicação também para o Dr. Omer Mei-Dan (chefe do departamento de tratamento do quadril da Universidade do Colorado, que trabalha, em sua maioria, com atletas amadoras) dizer que repara muitos labrums que foram rasgados durante o parto.
Como poupar suas articulações.
Se biologia básica, genética ou atividade física prévia deixou você com o quadril rangendo, não é necessário conviver com a dor ou pegar leve em toda a sua rotina de academia.
Exercícios de baixo impacto como nadar, podem fortalecer os quadris e ainda prevenir mais rasgos por desgaste. (O yoga é ótimo para aperfeiçoar o equilíbrio, mas fique atento: Posturas como a do Pombo podem alongar demais e enfraquecer os músculos que circundam o quadril).
Proporção de mulheres adultas que trataram displasia de quadril em relação aos homens.
Fisioterapeutas também podem localizar desequilíbrios de movimento e nos músculos da região glútea, central, e dos flexores do quadril que podem levar a rasgos no labrum ou agravar casos de IFA e de displasia, e assim prescrever ações que os consertem.
Se seis meses de exercícios leves e fisioterapia não gerarem uma melhora significativa, é porque chegou a hora de avaliar o quadril com um especialista, já que o estágio final de displasia de quadril e da IFA é a osteoartrose e, em alguns casos, a artroplastia de quadril, diz a Dra. Linnea Welton, especialista em manutenção do quadril no Centro Médico MultiCare Auburn.
Se você precisar de intervenção cirúrgica, pode ser minimamente invasiva. Agora são usadas câmeras de fibra óptica para fazer reparos que antes necessitavam de uma cirurgia maior.
Se o seu quadril está feliz, deixe-o assim.
Demonstre um pouco de amor aos músculos que o apoiam. Apoios de espuma durante o pré-treino para o bumbum, tendões, e quadris aumentam a mobilidade.
Portanto foque em fortalecer os glúteos com exercícios como “exercício do sapo” (uma incrementada na ponte de glúteos, de modo que você junta os calcanhares no chão), levantamentos de perna lateral, step lateral, e pequenas caminhadas com elástico.