A Sociedade Americana de Anestesia Regional e Medicina da Dor (ASRA) publicou recentemente diretrizes abrangentes sobre o gerenciamento de pacientes perioperatórios que usam cannabis e canabinoides. Essas diretrizes abordam a prevalência crescente do uso de cannabis e suas implicações para o cuidado perioperatório[1]Shah S, Schwenk ES, Sondekoppam RV, Clarke H, Zakowski M, Rzasa-Lynn RS, Yeung B, Nicholson K, Schwartz G, Hooten WM, Wallace M. ASRA Pain Medicine consensus guidelines on the management of the … Continue reading.
Importância do Estudo
O aumento do uso de cannabis, tanto para fins recreativos quanto medicinais, motivou a American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine (ASRA) a desenvolver diretrizes de consenso sobre o manejo perioperatório de pacientes que utilizam cannabis e canabinoides. A necessidade dessas diretrizes surge de várias razões críticas.
Primeiramente, a cannabis é a substância psicotrópica mais utilizada após o álcool nos Estados Unidos, com cerca de 10% da população relatando uso mensal em 2017, de acordo com a US Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA). A legalização e a descriminalização da cannabis ao longo da última década aumentaram o interesse e a literatura sobre o assunto, resultando em um uso legal e comercialização mais amplos.
Com a prevalência crescente do uso de cannabis, tanto para fins médicos quanto recreativos, anestesiologistas, cirurgiões e médicos perioperatórios precisam entender os efeitos da cannabis na fisiologia para fornecer um cuidado perioperatório seguro. A cannabis pode afetar vários aspectos do manejo perioperatório, incluindo a monitorização, a qualidade da analgesia, o consumo de opioides e a recuperação pós-operatória.
Além disso, a cannabis está associada a potenciais benefícios terapêuticos, como o manejo da dor crônica e neuropática e a redução de náuseas induzidas por quimioterapia. No entanto, também existem efeitos colaterais potenciais, como psicose, síndrome de hiperemese por cannabis, transtorno por uso de cannabis e síndrome de abstinência de cannabis.
Dada a heterogeneidade dos produtos de cannabis e a escassez de literatura perioperatória específica, havia uma necessidade crítica de diretrizes baseadas em evidências para o manejo de pacientes que consomem cannabis. As diretrizes da ASRA foram desenvolvidas para fornecer recomendações clínicas específicas para o manejo perioperatório de cannabis e canabinoides, abordando questões como triagem perioperatória, adiamento de cirurgias eletivas, uso concomitante de opioides e cannabis, e monitoramento pós-operatório.
Mensagens importantes
Triagem e gerenciamento pré-operatório: A triagem de todos os pacientes cirúrgicos para o uso de cannabis é recomendada para identificar riscos potenciais e personalizar o cuidado perioperatório. A triagem deve incluir a avaliação da frequência, quantidade e forma de uso de cannabis, bem como a presença de intoxicação aguda, que pode necessitar do adiamento de cirurgias eletivas devido ao risco aumentado de complicações.
Ajustes anestésicos e analgésicos: Pacientes que usam cannabis podem necessitar de ajustes nos planos anestésicos e analgésicos. A interação entre canabinoides e agentes anestésicos pode levar a instabilidade hemodinâmica e alterações no metabolismo dos fármacos. A ASRA destaca o risco aumentado de efeitos adversos quando opioides e cannabis são usados juntos, exigindo monitoramento cuidadoso e possíveis ajustes de dose. Além disso, a tolerância aumentada aos anestésicos pode requerer doses mais altas para alcançar o efeito desejado.
Monitoramento pós-operatório: O monitoramento pós-operatório intensificado é recomendado para usuários de cannabis devido ao risco aumentado de complicações como depressão respiratória e instabilidade cardiovascular. A ASRA enfatiza a necessidade de estratégias de manejo da dor pós-operatória personalizadas para garantir uma recuperação ótima e minimizar complicações. Isso inclui a vigilância para eventos adversos e a adaptação do manejo da dor conforme necessário
Considerações especiais para pacientes grávidas: as diretrizes também abordam as necessidades únicas de pacientes grávidas que usam cannabis, dados os riscos potenciais para a mãe e o feto.
Transtorno por uso de cannabis: identificar e gerenciar o transtorno por uso de cannabis é crucial, pois pode impactar os resultados perioperatórios. As diretrizes recomendam uma abordagem multidisciplinar para abordar essa questão.
Essas diretrizes visam melhorar o cuidado clínico e orientar futuras pesquisas, além de fornecer orientação a agências reguladoras sobre o impacto da cannabis na anestesia e no manejo da dor.
Referências Bibliográficas
↑1 | Shah S, Schwenk ES, Sondekoppam RV, Clarke H, Zakowski M, Rzasa-Lynn RS, Yeung B, Nicholson K, Schwartz G, Hooten WM, Wallace M. ASRA Pain Medicine consensus guidelines on the management of the perioperative patient on cannabis and cannabinoids. Regional Anesthesia & Pain Medicine. 2023 Mar 1;48(3):97-117. |
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