A fratura de um osso é um evento comum na vida de qualquer pessoa. Embora não seja necessariamente algo que ocorra com frequência, é normal que uma pessoa quebre algum osso pelo menos alguma vez na vida.
O estilo de vida apresenta grande influência sobre a frequência com que essas fraturas ocorrem. Por exemplo, pessoas que praticam esportes regularmente, especialmente esportes de contato, tendem a lidar com fraturas e torções com maior frequência do que as outras pessoas[1]Summers K, Fowles SM. Colles’ Fracture. InStatPearls [Internet] 2021 Aug 11. StatPearls Publishing..
Porém, existe outro fator que apresenta forte influência nessa questão: a saúde do osso. Um osso saudável apresenta grande resistência à fratura, visto que a resistência a danos mecânicos consiste em uma de suas funções.
Dependendo dos hábitos diários e da alimentação, assim como da idade, a densidade do osso pode diminuir, processo conhecido como osteoporose. A diminuição da densidade e aumento da porosidade, por sua vez, diminuem a resistência do osso, tornando-o mais propenso a fraturas[2]Habeebullah A, Vasiljevic A, Abdulla M. Evidence-based review of Colles’ fracture. Trauma. 2015 Jul;17(3):191-200..
Existem diversos tipos de fraturas catalogadas na literatura médica, sendo definidas de acordo com o local da fratura, o comportamento da região após a fratura, assim como as causas mais comuns. A fratura de Colles é uma delas, sendo uma das fraturas mais comuns em idosos.
A fratura de Colles é mais comumente causada por uma queda, aterrissando com a mão estendida com o punho em dorsiflexão
O que é a fratura de Colles
A fratura de Colles, também conhecida como fratura de Smith e fratura do rádio distal, é um tipo de fratura que envolve o punho. Ela consiste na fratura do rádio, osso do antebraço, na região próxima à mão, por um impacto transversal. Como resultado, a mão se desloca transversalmente ao braço, criando o formato distinto da fratura de Colles[3]Ellis H. Abraham Colles: colles’ fracture. Journal of Perioperative Practice. 2012 Aug;22(8):270-1.
Devido a essa aparência distinta, em que a mão se torna visivelmente deslocada em relação ao braço, ela foi identificada e catalogada em 1814, antes da invenção dos raios-X, pelo cirurgião irlandês Abraham Colles.
Além da deformação do local, a fratura é acompanhada por dor, inchaço e vermelhidão.
A causa mais comum da fratura de Colles é a queda. Ao cair de alturas baixas ou médias, nosso primeiro instinto é utilizar a mão e o braço para suavizar a queda e proteger o resto do corpo.
Em uma pessoa que apresenta os ossos saudáveis, isso geralmente contribui com sucesso para a suavização da queda. Porém, se a pessoa apresenta osteoporose, os ossos da região não apresentarão necessariamente a resistência necessária para aguentar o impacto, o que pode resultar em uma fratura.
Neste caso, a mão está se deslocando verticalmente para baixo para frear a queda, e, ao encostar no chão, seu movimento para. Porém, com a inércia do movimento e o peso do corpo, que ainda está caindo, o braço tende a continuar esse movimento vertical, se deslocando para baixo, ocasionando essa fratura transversal.
Embora seja mais comum em idosos, devido à osteoporose e outros possíveis problemas agravantes, como problemas de equilíbrio ou de locomoção, esse tipo de fratura também acomete jovens.
Entre os jovens, a principal causa são acidentes de carro. A fratura pode acontecer, por exemplo, devido ao impacto ocorrer enquanto mantêm as mãos no volante, ou como reflexo por parte do corpo para tentar “conter” o impacto.
Outros tipos de acidente que envolvem alta velocidade também podem causar isso, como queda de motos ou de bicicletas em movimento, ou de grande alturas. Porém, caso apresentem ossos saudáveis, geralmente não ocorre de baixas ou médias alturas.
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Causas comuns de Fratura de Colles
- Osteoporose: A osteoporose é uma condição em que os ossos se enfraquecem e quebradiços devido à falta de cálcio, vitamina D e outros nutrientes. Isso pode levar a um risco maior de fraturar a clavícula.
- Movimento repetitivo: movimentos repetitivos, como jogar uma bola ou balançar um taco de golfe, podem fazer com que a clavícula fique sobrecarregada, levando a fraturas por estresse e, por fim, a uma fratura de Colles.
- Quedas: as quedas podem causar trauma direto na clavícula, levando a uma fratura de colo.
- Acidentes com veículos automotores: Acidentes com veículos automotores podem causar trauma direto, levando a uma fratura do colo.
- Lesões esportivas: Lesões esportivas, como uma queda de bicicleta ou uma pancada no futebol, podem levar a uma fratura de Colles.
- Trauma direto no osso: Trauma direto na punho, como uma queda ou um acidente, pode causar uma fratura de Colles.
- Estrutura óssea enfraquecida devido a câncer ou outras patologias: Certas patologias médicas, como o câncer, podem enfraquecer a estrutura óssea e torná-la mais suscetível a fraturas
Sintomas da Fratura de Colles
- Rigidez: Dificuldade em mover o pulso devido a dor, inchaço e amplitude de movimento limitada.
- Sensação de rangido: sensação de algo se movendo dentro da articulação do pulso quando o pulso é movido.
- Força de preensão limitada: diminuição da capacidade de segurar ou agarrar objetos devido à fraqueza no pulso.
- Dor e sensibilidade quando a pressão é aplicada: Dor ou desconforto quando a pressão é aplicada na área afetada, especialmente ao longo da linha de fratura.
- Deformidade visível: uma alteração visível na forma do punho, como uma protuberância ou amassado, causada pelo(s) osso(s) quebrado(s) empurrando os tecidos moles.
- Formigamento ou dormência: perda de sensibilidade na área afetada devido à compressão ou dano do nervo.
- Incapacidade de mover o pulso: Dificuldade em mover o pulso devido à dor, inchaço e amplitude de movimento limitada.
Complicações
Devido ao local em que a fratura ocorre, é possível que ocorram algumas complicações resultantes da fratura, afetando principalmente o movimento do punho, das mãos e dos dedos.
Como o tecido nervoso responsável pelo controle e pelos sentidos desses membros do corpo passam por essa região, existe a chance desses nervos serem danificados pela fratura. Um dos possíveis resultados disso é a síndrome do túnel carpal.
A síndrome do túnel carpal é resultante da compressão de um desses nervos, o nervo mediano. Como resultado, existe diminuição da sensibilidade na mão e dificuldade de aplicar força, o que prejudica a realização das atividades diárias.
Existe também a possibilidade de ocorrer a contratura de Volkmann, condição caracterizada pela danificação da região do punho, resultando na fixação da mão em um formato de “garra”, isto é, contraída, sem capacidade de retornar à posição reta.
A fratura também pode resultar na formação de calos e na indução de condições que provocam dor crônica, como a síndrome complexa de dor regional e artrite pós-traumática.
A ocorrência dessas sequelas depende do quão danificada foi a região devido ao impacto e à distensão do osso, assim como do tratamento aplicado sobre a fratura.
Tratamento da fratura de Colles
Antes do tratamento, o médico realizará exames para comprovar o tipo de fratura, assim como determinar a extensão dos danos. Diferentes intensidades de danos requerem diferentes abordagens e podem ter diferentes tempos de recuperação.
A radiografia é o principal exame nesse caso. Com ela, é possível identificar como a fratura danificou o osso, como estão dispostos os fragmentos, e possivelmente quais sequelas podem resultar da fratura e do tratamento.
Em casos mais simples, o tratamento usual é a relocação e imobilização do punho.
Com base na radiografia, o médico consegue determinar como relocar o punho de forma a realinhar os ossos e os fragmentos presentes. Um realinhamento correto é crucial para uma boa regeneração do local e para evitar a ocorrência de complicações.
Após esse realinhamento, o punho é imobilizado com gesso ou tala, e sua evolução é acompanhada. A imobilização geralmente dura de 6 a 8 semanas, sendo a tala ou gesso substituída a cada 3 semanas.
Para melhor acompanhar a evolução do tratamento, pode ser requerido a realização de radiografias do local com certa frequência.
No caso de deslocamentos mais severos, inclusive de fratura exposta, é necessária a realização de um processo cirúrgico para o realinhamento correto. Esse processo envolve abrir cirurgicamente o local para realizar o alinhamento manual dos fragmentos do osso.
Esse procedimento é especialmente necessário no caso de fratura exposta, pois a exposição ao ar por parte do osso e tecidos internos do corpo pode causar grandes prejuízos à recuperação e aumenta a propensão a infecções bacterianas. No caso, o procedimento deve ser realizado em até 8 horas após o aparecimento da lesão para melhores resultados.
Nesses casos em que a intervenção cirúrgica foi necessária, podem ser utilizados alguns outros métodos para garantir a regeneração correta dos ossos envolvidos. Esses métodos incluem o uso de pinos metálicos, a aplicação de placas e parafusos, assim como o uso de fixadores externos, além da aplicação do gesso.
Para fraturas expostas, comumente se aplica o fixador externo de início e, dependendo da recuperação, podem ser aplicados fixadores internos posteriormente.
Recomendações
Durante o tratamento, há algumas recomendações que podem ser feitas pelos médicos para garantir uma boa recuperação e tornar esse processo mais tolerável.
A mais comum é quanto ao manejo da dor. É normal que o processo de recuperação seja doloroso, portanto, deve-se adotar formas de diminuir a dor quando possível. Métodos simples como manter o braço elevado podem ser suficientes, assim como o uso de analgésicos sem prescrição.
Em casos de dor mais intensa, pode ser recomendado o uso de analgésicos e anti-inflamatórios um pouco mais fortes, como o ibuprofeno, assim como o uso de analgésicos que requerem prescrição médica, se necessário.
A recuperação do movimento dos dedos deve ocorrer logo nas primeiras 24 horas. Caso mantenha-se difícil movê-los, por exemplo, devido a dor intensa, deve-se entrar em contato com o médico que realiza o acompanhamento para revisão do tratamento.
Também deve-se ter em mente que o gesso precisa ser mantido seco para a manutenção da qualidade do tratamento. Portanto, durante o banho, deve-se cobri-lo com uma sacola plástica e, caso molhe, deve ser secado com um secador de cabelo.
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Pós-tratamento
Após a retirada da tala, mesmo com uma boa recuperação, inicia-se um período de pós-tratamento para reobter a movimentação do punho.
Boa parte da amplitude desses movimentos são obtidas novamento em até dois meses após a retirada da tala, com o uso normal do punho. Inicialmente haverá rigidez e dor ao movimentá-lo, portanto, é necessário cuidado. Com o tempo, ambos os sintomas diminuem.
Dependendo do caso, o médico pode recomendar a realização de fisioterapia para uma melhor recuperação.
O retorno às atividades habituais deverá ser realizado aos poucos, seguindo o acompanhamento médico. Por exemplo, a realização de atividades que requerem maior esforço por parte do punho, como musculação e prática de esportes, pode ser retomada apenas entre 3 e 6 meses após o início do pós-tratamento.
A retomada da capacidade de movimentação total do punho afetado tende a ser obtida apenas após 2 anos do início do pós-tratamento, caso ocorra.
Prevenção
A melhor forma de lidar com a fratura de Colles é a prevenção.
A principal medida para isso consiste em manter a saúde do osso. Para isso, deve-se ingerir alimentos ricos em cálcio regularmente (como leite e queijo) e também ter alguma fonte de vitamina D, como exposição regular ao sol ou o uso de suplementos (com acompanhamento médico).
A prática regular de exercícios físicos, assim como o cessamento do tabagismo e da ingestão de álcool, também contribuem para uma melhor absorção e utilização do cálcio por parte do corpo.
Pessoas que apresentam histórico familiar de osteoporose devem ficar ainda mais atentas.
Isso se aplica tanto às pessoas que já a apresentam, que devem seguir as orientações médicas como forma de tratamento, quanto às que ainda não a apresentem, que devem realizar tais mudanças de estilo de vida de forma preventiva.
No caso de pessoas mais jovens, os cuidados na condução de automóveis e na prática de esportes também são fundamentais para evitar a ocorrência de acidentes e o ocasionamento de fraturas. No caso dos esportes, a alimentação também é fundamental para evitar qualquer tipo de ferimento ósseo que possa resultar dessas práticas.
Referências Bibliográficas
↑1 | Summers K, Fowles SM. Colles’ Fracture. InStatPearls [Internet] 2021 Aug 11. StatPearls Publishing. |
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↑2 | Habeebullah A, Vasiljevic A, Abdulla M. Evidence-based review of Colles’ fracture. Trauma. 2015 Jul;17(3):191-200. |
↑3 | Ellis H. Abraham Colles: colles’ fracture. Journal of Perioperative Practice. 2012 Aug;22(8):270-1 |