O Cimzia® é um medicamento biológico utilizado no controle de diversas doenças inflamatórias autoimunes. Ele tem proporcionado uma melhoria significativa na qualidade de vida de muitos pacientes ao reduzir a inflamação crônica e os danos teciduais associados a essas enfermidades. Sua substância ativa é o certolizumabe pegol, um anticorpo monoclonal que modula o sistema imunológico para controlar a resposta inflamatória exagerada do organismo.
Para que serve o Cimzia?

Cimzia® é indicado principalmente para tratar uma série de doenças autoimunes e condições reumáticas caracterizadas por inflamação crônica. Entre as principais indicações do medicamento estão:
- Artrite reumatoide – Forma grave de artrite nas articulações, causando dor e destruição articular.
- Artrite psoriásica – Artrite inflamatória associada à psoríase, afetando articulações e pele.
- Espondilite anquilosante – Doença inflamatória da coluna (um tipo de espondiloartrite axial) que leva à dor e rigidez nas costas.
- Outras espondiloartrites axiais – Formas de espondiloartrite axial sem evidência radiográfica (sem alterações no raio-X), com sintomas semelhantes à espondilite anquilosante.
- Doença de Crohn – Doença inflamatória intestinal que afeta principalmente o intestino, causando dor abdominal, diarreia e lesões no trato digestivo.
- Psoríase em placas (moderada a grave) – Doença de pele autoimune que forma placas escamosas; Cimzia pode ser usado em adultos candidatos à terapia sistêmica.
- Artrite idiopática juvenil – Tratamento da artrite juvenil de curso poliarticular em pacientes pediátricos (geralmente a partir de 2 anos de idade).
Ao tratar essas condições, Cimzia® alivia sintomas como dor articular, inchaço e rigidez, no caso das artrites, e reduz a inflamação intestinal na doença de Crohn. Muitos pacientes apresentam melhora funcional e retomam atividades diárias com menos limitações graças ao controle da inflamação.
Além disso, o medicamento pode conter a progressão do dano articular em doenças como a artrite reumatoide, evitando deformidades e lesões estruturais ao longo do tempo.
Como funciona o Cimzia?
O certolizumabe pegol, princípio ativo do Cimzia®, atua bloqueando especificamente o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). O TNF-α é uma proteína pró-inflamatória central no desenvolvimento de diversas doenças autoimunes – ele promove a ativação de células do sistema imune, a liberação de outras citocinas inflamatórias e contribui para a destruição de tecidos saudáveis (como cartilagens e ossos nas articulações).
Ao se ligar firmemente ao TNF-α, Cimzia impede que essa citocina se conecte aos receptores celulares, interrompendo a cascata inflamatória. Dessa forma, reduz-se a migração de células inflamatórias para os tecidos e a liberação de enzimas e mediadores que causariam dano. O resultado é uma redução significativa da inflamação e dos sintomas nas áreas afetadas – por exemplo, diminuição da dor e do inchaço nas articulações, ou melhora nas lesões intestinais.
Uma característica importante do Cimzia® é que ele corresponde a um fragmento de anticorpo “PEGuilado” (ligado a moléculas de polietilenoglicol). Essa modificação aumenta a duração de sua ação no organismo e diferencia o Cimzia de outros anticorpos completos.
Em termos simples, o Cimzia não possui a porção Fc do anticorpo (parte responsável por algumas reações imunológicas adicionais), o que contribui para menos efeitos colaterais relacionados a complemento e também tem implicações positivas, por exemplo, na gravidez – conforme discutiremos adiante.
Precauções e contraindicações do Cimzia
Como todo medicamento imunobiológico, o uso do Cimzia® exige cuidados especiais e avaliação médica criteriosa. Antes de iniciar o tratamento, informe detalhadamente o médico sobre seu histórico de saúde, incluindo infecções passadas, vacinas, doenças concomitantes e uso de outros remédios. Algumas precauções e contraindicações importantes incluem:
- Infecções ativas ou recorrentes: Cimzia diminui as defesas imunes, portanto não deve ser utilizado em pacientes com infecção ativa grave (como infecções generalizadas, abscessos ou tuberculose em atividade). É obrigatório realizar testes para tuberculose latente antes de iniciar a terapia – se o teste for positivo, deve-se tratar a tuberculose latente antes de usar o biológico. Durante o tratamento, o paciente deve ser monitorado quanto a quaisquer sinais de infecção e o medicamento suspenso caso ocorra uma infecção séria.
- Hipersensibilidade: Pessoas com alergia conhecida ao certolizumabe pegol ou a qualquer componente da fórmula não podem usar Cimzia (contraindicação absoluta). Se durante as aplicações ocorrerem sintomas de reação alérgica (coceira intensa, inchaço de face/garganta, falta de ar, queda de pressão, etc.), o tratamento deve ser interrompido imediatamente e procurar-se atendimento médico.
- Insuficiência cardíaca congestiva: Pacientes com insuficiência cardíaca moderada a grave (classes III ou IV da classificação NYHA) devem evitar o Cimzia, pois medicamentos anti-TNF como ele podem agravar quadros de falência cardíaca. Mesmo em casos leves, é necessária cautela e acompanhamento cardiológico, já que houve relatos raros de piora da função do coração associados a este tipo de terapia.
- Doenças desmielinizantes: Indivíduos com esclerose múltipla ou outras doenças neurológicas desmielinizantes devem usar Cimzia® com cautela. Embora não seja comum, há possibilidade teórica de que bloqueadores de TNF possam desencadear ou agravar sintomas neurológicos em pessoas suscetíveis. O médico avaliará cuidadosamente o risco/benefício nessa situação.
- Histórico de câncer: Por se tratar de um imunossupressor, existe uma preocupação com risco de certos tipos de câncer a longo prazo. Alguns estudos sugerem uma incidência levemente aumentada de linfomas e cânceres de pele não-melanoma em pacientes usando anti-TNF. Portanto, pacientes com histórico de neoplasias devem ser avaliados individualmente – muitas vezes o tratamento ainda pode ser feito, mas requer acompanhamento rigoroso (como exames dermatológicos periódicos).
- Gravidez e amamentação: Mulheres grávidas, amamentando ou planejando engravidar devem discutir os riscos e benefícios do Cimzia® com seu médico. Até o momento, não se comprovou totalmente a segurança do medicamento na gestação, por isso a decisão deve ser individualizada. Em geral, se o benefício for maior que o risco, o médico pode optar por manter o tratamento durante a gravidez. No caso da amamentação, também não se sabia inicialmente se o certolizumabe pegol seria excretado no leite materno – dessa forma, recomendava-se cautela e avaliação caso a caso.
Além desses pontos, é recomendado que o paciente esteja com as vacinas em dia antes de iniciar o Cimzia® (evitando vacinas de vírus vivos durante o tratamento) e que não use simultaneamente outras terapias biológicas imunossupressoras. Durante o uso do Cimzia®, qualquer sinal de infecção, febre persistente, perda de peso inexplicada ou fadiga extrema deve ser comunicado ao médico imediatamente, pois pode indicar efeitos adversos como infecção oportunista que requerem atenção.
Cuidados de armazenamento do Cimzia
Por se tratar de um medicamento biológico injetável, o Cimzia® precisa ser manuseado e armazenado adequadamente para manter sua eficácia. Os principais cuidados de conservação incluem:
- Refrigeração: Armazene o produto sob refrigeração entre 2°C e 8°C (na geladeira). Não deixe em temperatura ambiente por períodos prolongados fora do uso.
- Não congelar: Nunca congele o Cimzia. Temperaturas abaixo de 0°C podem danificar a estrutura do medicamento e torná-lo inutilizável.
- Proteção da luz: Mantenha as seringas ou frascos ao abrigo da luz direta. Guarde-os dentro da embalagem original até o momento do preparo, para evitar degradação pela luz.
- Antes da aplicação: Retire o medicamento da geladeira com antecedência e aguarde ele atingir a temperatura ambiente antes de aplicar. Injetar a solução ainda fria pode causar desconforto no local da injeção.
- Integridade do produto: Não utilize o Cimzia se observar partículas, turvação ou alteração de cor na solução. Cada seringa ou frasco deve estar límpido e incolor (ou ligeiramente amarelado). Também verifique o prazo de validade e não use produtos vencidos.
- Manter fora do alcance de crianças: Assim como qualquer medicação, guarde em local seguro, longe do acesso de crianças, para evitar acidentes.
- Descarte correto: Descarte seringas usadas em recipientes apropriados (descarpack) e entregue em farmácias ou postos de coleta de materiais biológicos. Se houver sobras ou medicamentos vencidos, faça a entrega em pontos de coleta de medicamentos para descarte seguro – não jogue no lixo comum ou na rede de esgoto.
Novas aplicações e pesquisas
Desde seu lançamento, o Cimzia® tem passado por pesquisas contínuas e teve suas indicações expandidas, oferecendo novas possibilidades terapêuticas:
- Tratamento da psoríase em placas: Originalmente desenvolvido para doenças reumáticas e Crohn, o certolizumabe pegol demonstrou eficácia também em psoríase vulgar (em placas) moderada a grave. Estudos clínicos comprovaram redução das lesões cutâneas e melhora da gravidade da psoríase em pacientes tratados com Cimzia, levando à aprovação dessa nova indicação em adultos candidatos a tratamento sistêmico.
- Uso em gravidez e amamentação: Uma questão importante para pacientes em idade fértil é se medicamentos imunossupressores podem ser usados durante a gestação ou aleitamento. No caso do Cimzia®, dados mais recentes trouxeram notícias positivas. Estudos específicos (como os estudos CRIB e CRADLE) analisaram a transferência do certolizumabe pegol da mãe para o bebê e descobriram que há transferência mínima ou praticamente nula pela placenta e pelo leite materno. Diferentemente de outros anticorpos anti-TNF, o Cimzia não atravessa facilmente a barreira placentária devido à sua estrutura (por ser um fragmento sem Fc). Com base nesses achados, hoje considera-se que o Cimzia pode ser mantido durante a gravidez, se necessário, sob supervisão médica, sem aumentar risco significativo ao feto. Da mesma forma, na amamentação, a quantidade de medicamento que passa para o leite é extremamente baixa – a ponto de autoridades de saúde permitirem seu uso em mulheres que estejam amamentando, quando os benefícios superam os riscos. Essa característica torna o Cimzia uma opção especialmente interessante para mulheres com doenças reumáticas que desejam levar adiante a gestação sem interrupção do tratamento, algo nem sempre possível com outros imunobiológicos.
- Expansão para uso pediátrico: Outra novidade importante foi a aprovação do Cimzia para artrite idiopática juvenil de curso poliarticular. A decisão regulatória recente permite que crianças a partir de 2 anos de idade com formas ativas de artrite juvenil possam ser tratadas com certolizumabe pegol. Antes, poucas eram as opções de biológicos anti-TNF indicados na pediatria além de etanercepte e adalimumabe – agora, o Cimzia surge como mais uma ferramenta no arsenal terapêutico para controlar a artrite em pacientes jovens, trazendo esperança de melhor controle da doença desde cedo e prevenção de sequelas articulares no longo prazo.
- Pesquisas em outras doenças: O sucesso do mecanismo anti-TNF do Cimzia® em diversas condições estimulou pesquisas de seu uso em outras enfermidades inflamatórias. Por exemplo, na hidradenite supurativa – uma doença crônica de pele marcada por inflamação e abscessos na região das axilas, virilha e outras áreas –, há casos publicados de pacientes com formas graves da doença que obtiveram melhora significativa ao usar certolizumabe pegol após falha de outros tratamentos. Embora o Cimzia não tenha aprovação formal para hidradenite, esses relatos indicam potencial benefício em situações refratárias, especialmente quando o anti-TNF padrão (adalimumabe) não surtiu efeito. Ademais, investigações preliminares têm explorado certolizumabe em condições como uveíte associada a espondilite anquilosante, asma grave e sarcoidose, buscando avaliar se o controle do TNF também poderia ajudar nesses contextos.
Em resumo, o Cimzia® se consolidou como um importante aliado no tratamento de doenças autoimunes, com um perfil de ação que combina eficácia no controle inflamatório e inovações que ampliam sua segurança e comodidade (como a possibilidade de uso na gestação ou a comodidade de aplicações subcutâneas menos frequentes em dose de manutenção).
Cada avanço – seja uma nova indicação aprovada ou uma descoberta sobre seu uso em populações especiais – reflete o compromisso da comunidade médica em otimizar a qualidade de vida dos pacientes.
Se você ou um familiar foram prescritos com Cimzia®, é fundamental manter um diálogo aberto com o reumatologista/gastroenterologista ou dermatologista, seguir as orientações de tratamento e realizar o acompanhamento regular, pois assim será possível tirar o máximo de benefício dessa terapia inovadora com segurança.